É comum que o profissional da saúde em geral avalie no consultório que seu paciente está sofrendo de dores físicas advindas de dificuldades emocionais. As queixas podem estar ligadas, por exemplo, a quadros clínicos como gastrite nervosa, fibromialgia, dermatite atópica, insônia, distúrbios alimentares e muitos outros.

Também não é raro que muitos pacientes se surpreendam ou mesmo se frustrem quando não há nenhuma alteração significativa no resultado de seus exames que justifique a persistência de tamanha dor ou incômodos físicos.

Entretanto, fato é que, independentemente se uma dor ou incômodo pode ou não ser detectado por um exame físico, o sofrimento já existe, ele é legítimo e singular de cada pessoa.

Ainda que pareça contraditório, um sintoma psicossomático tem seu valor de saúde, pois é justamente ele quem traz o paciente até um profissional na esperança de ser curado. Os médicos especialistas são de fundamental importância para que possam acolher, avaliar e orientar nos cuidados com o corpo, porém não basta apenas ”remediar” pontualmente uma pessoa que também está emocionalmente sofrendo. Ainda que não tenhamos consciência do sentido de um determinado sintoma, é chegada a hora em que ele pede por atenção com urgência, ele merece e precisa ser visto com mais tempo e dedicação, precisa ser escutado e compreendido para que não retorne a gritar mais e mais alto através do adoecimento físico.

O transtorno psicossomático não se constitui como tal da noite para o dia, nem deriva de mínimas frustrações humanas, tampouco será desenvolvido por qualquer pessoa. As dificuldades, o sofrimento e as frustrações fazem parte da vida, mas o verdadeiro transtorno psicossomático tem raízes nos primórdios do desenvolvimento emocional do ser humano, ou seja, existem dificuldades específicas pelas quais a pessoa passou para que precisasse, inconscientemente, se afastar da dor emocional para se proteger de uma angústia profunda. Paradoxalmente, o corpo, em nome da saúde, adoece na esperança de ser ajudado com a angústia que ficou em algum momento aguardando por ser cuidada.

Além dos tratamentos médicos, a psicoterapia é indicada para pessoas que estejam buscando escutar essa comunicação que o corpo está insistentemente tentando fazer através do seu adoecimento físico. Será através da fala e da escuta que a dupla de trabalho analista-paciente irá costurar possíveis caminhos de cuidados.

Daniele Muzaiel Gimenez (5/05/2024)