
Problemas de comportamento na infância, e agora? – Parte 2: Como resolver conflitos com o seu filho
Como abordamos no texto “Problemas de comportamento na infância, e agora?”, existe um modelo para solução de problemas baseado no fato de que as crianças se comportariam melhor se soubessem como fazê-lo. Nesse modelo entendemos que existe um problema mais profundo que é a ausência ou o atraso no desenvolvimento de uma habilidade específica gerenciada pelo cérebro. Essa dificuldade não deve ser confundida com falta de vontade ou falta de educação.
Essa ideia foi postulada pelo Dr. Ross Greene em seu livro “Explosive Child”. Segundo ele a melhor forma de resolver conflitos com o seu filho é através do plano B. Nomeado dessa forma porque em geral não é o mais usado pelos pais. O objetivo é a Solução colaborativa e proativa. Adulto e criança conversam e resolvem o problema juntos. Envolve empatia, escuta e construção conjunta de soluções, sendo o plano mais recomendado para crianças explosivas.
3 passos principais
1. Empatia:
Objetivo: compreender o ponto de vista da criança.
Ex.: “Percebi que você ficou bravo quando pedi para desligar o tablet. O que estava acontecendo ali para você?”
Aqui, o adulto escuta sem julgar e mostra interesse genuíno pelo motivo da frustração da criança.
- Usa perguntas abertas:
→ “O que estava acontecendo?”
→ “O que te incomodou ali?”
→ “O que é difícil nessa situação para você?” - Importante: não pressionar, não corrigir, nem dar sermão.
- Algumas crianças precisarão de tempo ou ajuda para expressar o que sentem.
Se a criança não responde, tente fazer hipóteses suaves baseadas em sua observação:
“Será que você estava cansado naquele momento?”
“Talvez tenha sido difícil parar o jogo de repente?”
2. Partilhar a preocupação do adulto:
- O adulto explica sua própria preocupação de forma clara e não acusatória.
- Ex.: “Entendo que você estava no meio do jogo. Ao mesmo tempo, eu estava preocupado com a hora do jantar e queria que você estivesse com a gente.”
3. Convidar para a solução
- Adulto e criança pensam juntos em uma solução que atenda às duas partes.
- Ex.: “Será que conseguimos pensar numa forma de você jogar e ainda assim conseguir parar a tempo de jantar com a família?”
Por que o plano B funciona?
- Treina a criança em habilidades de resolução de problemas, empatia, flexibilidade, comunicação e autorregulação.
- Ajuda a criança a sentir-se ouvida e compreendida.
- Reduz a frequência de explosões, porque resolve os gatilhos reais do comportamento.
O que o plano B não é:
- Não é “deixar a criança fazer o que quiser”.
- Não é uma conversa “de emergência”, feita no meio da explosão.
- Não é uma técnica mágica, e sim um processo contínuo de construção de relação e habilidade.
Exemplo completo de conversa no Plano B
Adulto: “Notei que ontem, quando pedi para guardar os brinquedos, você ficou muito bravo. O que houve?”
Criança: “Eu ainda estava brincando, você não esperou.”
Adulto: “Ah, entendi. Você queria terminar o que estava fazendo. Eu fiquei preocupado porque a sala precisava estar arrumada antes da visita. Você tem alguma ideia de como podemos resolver isso numa próxima vez?”
Criança: “Você pode me avisar antes, tipo 5 minutos.”
Adulto: “Ótima ideia. E se eu disser: ‘em 5 minutos a gente guarda tudo’?”
Criança: “Tá bom!”
Obstáculos comuns:
- Falta de escuta real: querer “corrigir” ou “ensinar” em vez de ouvir.
- Pressa: o Plano B exige tempo e paciência.
- Criança fechada: pode ser necessário ganhar confiança aos poucos.
- Adulto cansado: vale mais a pena adiar do que insistir.
Benefícios consistentes do plano B:
- A criança aprende habilidades sociais e emocionais.
- Os conflitos se tornam menos frequentes e mais previsíveis.
- A relação adulto-criança se torna mais colaborativa e segura.
- Os adultos passam a agir com intenção, e não por impulso ou desespero.
O Plano B é mais do que uma técnica — é uma mudança de mentalidade. Ele nos convida a olhar para nossos filhos com mais empatia e menos julgamento, entendendo que por trás de um comportamento difícil quase sempre existe uma habilidade em falta, não má vontade.
Sim, vai exigir paciência, tempo e escuta. Mas ao resolver os problemas com a criança — e não contra ela — estamos ensinando, ao mesmo tempo, respeito, responsabilidade e conexão.
Como lembra o Dr. Ross Greene, “crianças se comportam bem quando conseguem”. Nosso papel é ajudá-las a conseguir.
E isso começa quando mudamos a pergunta de “como faço meu filho obedecer?” para “o que está dificultando para ele?”
É nessa escuta que nasce a verdadeira transformação.
Conte comigo para ajuda especializada.

Dra. Maressa Steiner
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